5 de maio de 2010

Entrevista com José Varela, vice-presidente do Conselho de Arbitragem: Os árbitros da AFVR são ambiciosos

Ser árbitro é, nos dias que correm, praticamente uma “ocupação de risco”. Não é considerada uma verdadeira profissão – apesar de já se estar a trabalhar nesse sentido – e, em alguns escalões, as compensações monetárias não chegam para compensar todas as contrariedades desta actividade.

Para desmistificar algumas questões ligadas à arbitragem, a RCA falou com José Varela, vice-presidente do Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Vila Real (AFVR) que falou das motivações, adversidades e perspectivas dos árbitros desta associação que conta com 29 profissionais.

Quais são, concretamente, as funções do Conselho de Arbitragem (CA)?
Ao contrário do que se pensa, o CA não se limita a nomear árbitros fim-de-semana após fim-de-semana, é muito mais do que isso. Tal acontecia há alguns anos atrás quando os árbitros eram considerados meros “apitadores”, desde então muita coisa mudou. Em cooperação com outros órgãos, nomeadamente com os núcleos de árbitros existentes no distrito, a saber, Núcleo “Henrique Silva”, de Vila Real, Núcleo da Régua e o mais recente, Núcleo do Alto Tâmega. Trabalhamos de forma autónoma, dentro da AFVR, e somos responsáveis, para além de nomear os árbitros, por escolher os profissionais passíveis a subir de divisão, acompanhando todo esse processo, assim como prestar todo o apoio logístico em torno da sua actividade.

Quais são os árbitros candidatos à subida de divisão e quais os critérios usados nesta selecção?
Todos os anos são indicados quatro, sendo que um entretanto já foi excluído um dessa lista. O juiz Fernando Pinto não faz mais parte dessa selecção e o Alexandre Pires, o André Santos e o João Santos são os nomes dos árbitros que ainda podem subir. Para se chegar a um consenso, os quatro árbitros são sujeitos a três provas ao longo do ano. Uma prova escrita, outra física e a última é subjectiva, ou seja, depende da avaliação dos observadores do CA realizada durante a época. Tudo de forma totalmente transparente. No caso do ano passado, todos os árbitros nomeados no início da época ficaram pelo caminho, o que levou à escolha unânime de Nuno Cabral, um nome que não tinha sido apontado inicialmente.

No ano passado foram muitos os árbitros que desceram de divisão, qual foi a razão principal para esta despromoção em massa?
A avaliação dos árbitros, depois de subirem, está a cargo da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), contudo, não foi apenas o desempenho que pesou nestas descidas. Foram reduzidos os quadros nacionais de arbitragem, por isso, foram mais árbitros despromovidos. De referir, ainda, que foi a primeira vez que houve descidas (4) desde os que chegamos ao CA, ou seja, há quatro anos.

Em relação às nomeações semanais, quais são os critérios a ter em conta pelo CA?
São vários. Primeiro, o grau de dificuldade do jogo, que se vai acentuando à medida que o campeonato avança, mas, sabemos que há jogos que merecem mais atenção e para isso terão de ser nomeados os juízes mais cotados. Depois também é tida em conta a localização dos jogos. Sabemos que não é aconselhável colocar árbitros de Vila Real a dirigir encontros de equipas vila-realenses, mas se o jogo for em Chaves não há necessidade em apontar um membro do Núcleo da Régua. É nesse sentido que trabalhamos. Não nomeamos, também, na medida do possível, um árbitro duas vezes seguidas num jogo com um determinado clube e, por fim, tentamos que os vetos aos clubes e aos árbitros sejam respeitados. Não fazemos disso “tábua rasa”, uma vez que, qualquer dia, os clubes escolhem os árbitros e não é isso que queremos. São muitos critérios para conjugar o que, naturalmente, nos condicionam bastante.

Os árbitros, através do seu desempenho, são muitas vezes sujeitos a ambientes adversos. Noutras ocasiões, são eles próprios que acabam por espalhar a polémica. Falo de um caso concreto, Francisco Vicente, que no final do encontro entre o Pedras Salgadas e o Vila Real prestou algumas declarações à comunicação social. Como viu este episódio?
Normalmente, os árbitros estão desaconselhados a prestar declarações, principalmente no pós-jogo, onde tudo ainda é muito recente. Neste caso, o Francisco Vicente, por se sentir injustiçado pela interpretação que causou, sentiu necessidade de se esclarecer, algo que não foi bem visto. Não considero que fez mal, mas, por vezes, entendo que seria interessante, para bem da verdade desportivo, o árbitro dialogar e explicar algumas situações que levam ao descontentamento generalizado. Contudo, por uma questão ética, tal não acontece.

Considera justo o valor dos prémios que os árbitros recebem, tendo em conta todas as coisas a que estão sujeitos?
Justo nunca é, mas é o possível. O valor é estipulado a cada época e varia consoante os jogos realizados, seja de escolas, infantis, iniciados, juvenis, juniores, até seniores. Da Divisão de Honra para a 1ª distrital não há qualquer diferença salarial. Porém, estas quantias não atraem ninguém para a arbitragem, é apenas um incentivo para que não se desmotivem e não terem quaisquer custos com esta actividade. A ambição de muito é chegar aos nacionais, e aí sim, os valores são outros.

Para terminar, qual é a actual situação dos árbitros da região em termos de formação e condições de trabalho?
Cada vez é mais difícil angariar novos árbitros. O árbitro é visto como o “mau da fita” e o mérito sobra sempre para os jogadores e treinadores. é sempre difícil mobilizar árbitros. Todavia, os núcleos fazem um trabalho exemplar nesse aspecto, têm promovido cursos de Futsal e Futebol o que nos garante uma boa matéria-prima, que dará frutos para o futuro.

Em termos de treino, os árbitros da AFVR dispõem das melhores condições no centro de treinos da UTAD, não frequentam tanto como gostaríamos mas isso já não nos diz respeito. As condições estão criados.

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