20 de maio de 2010

Entrevista com Pedro Bastos (Associação de Ginástica de Vila Real)

“É necessário que a ginástica se mostre e se promova”

Com cerca de 22 anos de actividade, a Associação de Ginástica de Vila Real (AGVR) é já uma referência no que toca a esta modalidade na região. O NVR falou com Pedro Bastos, presidente da associação, que realçou as potencialidades mas também as dificuldades da ginástica no distrito de Vila Real.

Qual o ano de fundação da associação?
A Associação de Ginástica de Vila Real teve a sua génese em 1988. Numa altura em que não existia ginástica de competição em Vila Real, a AGVR veio proporcionar aos praticantes da altura o acesso a provas de cariz distrital, regional e nacional.
Conta à data com 22 anos de existência, uma idade jovem, mas que para uma associação de um desporto menos mediatizado e numa região do interior é um feito impressionante fruto do trabalho de muitos dirigentes que por cá foram passando a quem a AGVR e eu pessoalmente estamos muito agradecidos.
Ao longo de duas décadas houve tempos melhores e outros menos bons, o que se afere pelo número de ginastas e de clubes filiados na AGVR, mas estamos, neste momento, numa fase francamente boa de crescimento e expansão.

Quais as modalidades praticadas?
A AGVR está sob a égide de duas Federações: a Federação Portuguesa de Trampolins e Desportos Acrobáticos, que engloba as modalidades de Trampolins (Mini-Trampolim; Duplo-Mini Trampolim e Trampolim, vulgo cama elástica), Tumbling e ginástica Acrobática. Também a Federação de Ginástica de Portugal, que engloba as modalidades de ginástica artística, ginástica rítmica, ginástica aeróbica, ginástica para todos e fitness.
A prática destas modalidades está sempre dependente dos clubes que podem, numa ou noutra altura, decidir apostar mais numa ou noutra. No nosso distrito o forte é a modalidade de Trampolins que possui o seu epicentro em Vila Real, onde residem os únicos dois clubes a praticar a modalidade a nível competitivo. Claro está que para a prática de certas modalidades é necessário estruturas que por vezes os clubes não possuem, embora tendo técnicos qualificados para as mesmas, o que dificulta o crescimento e a explosão de modalidades que potenciam o aparecimento de mais praticantes. No entanto, a AGVR tenta também promover todas as outras modalidades, ainda que sem grande expressão no nosso distrito.

Quantos praticantes e treinadores possui?
Nos últimos dois anos temos dedicado os nossos esforços à disseminação da prática gímnica, e, em virtude disso, conseguimos passar de dois para cinco clubes e de 22 ginastas filiados para os 130, o que são números consideráveis. Obviamente que esta realidade não acontece sem a presença de treinadores nos vários locais onde surgiram estes clubes, e essa também é uma preocupação da AGVR. Passamos de quatro para oito treinadores filiados, promovendo juntamente com os nossos associados, os cursos de treinadores organizados pelas federações.

Quais os clubes abrangidos pela associação?
A AGVR começou com cariz distrital estando estatutariamente consignada aos clubes que surgissem no nosso distrito. No entanto, existem distritos contíguos, como Viseu e Bragança que não possuem associação.
Assim, procedemos à alteração estatutária, com o aval das Federações, para alargar o nosso âmbito. Hoje em dia, para além dos clubes do nosso distrito (GCVR e AAUTAD) contamos já com um clube de Lamego e dois de Viseu.

Quais as infra-estruturas que a ginástica possui no concelho?
De momento as infra-estruturas que a ginástica possui são as que os clubes disponibilizam, ou seja, são estruturas preparadas sobretudo para multi-desportos e não especificamente para a ginástica. Uma das problemáticas mais sérias que a ginástica atravessa neste momento é o facto de não existir um local específico de treino. A ginástica possui equipamentos que pelo seu volume e peso se tornam quase insustentáveis de serem preparados todos os dias para treinar, não obstante, o desgaste que isso provoca no material.
Apesar da ginástica estar presente há mais de duas décadas no concelho e ser o principal motor de promoção em todo o nordeste transmontano, ainda não dispõe de um espaço próprio permanentemente equipado, que poderia ser municipal, sendo assim utilizado pelos vários clubes do concelho que poderiam contribuir com material e com a gestão das instalações. Pois, a aposta num determinado desporto passa inevitavelmente pelos órgãos municipais.
A construção/instalação de um edifício isoladamente fica muito aquém das expectativas desportivas para o futuro, mormente quando este se encontra rodeado de rodovias que inviabilizam o seu crescimento, daí que o desejável fosse a construção de um complexo desportivo que albergasse vários desportos, à luz do que tem sido feito noutros municípios.

Quais os projectos para o futuro, tendo em conta a nova lei de bases do desporto?
O Decreto-lei 248-B/2008, de 31 de Dezembro, em consonância com a Lei de Bases do Desporto veio proceder a alterações no que se refere sobretudo à organização das Federações desportivas, no entanto, veio também obrigar à alteração dos mandatos dos titulares dos órgãos dirigentes para quatro anos. No início do nosso mandato na Associação de Ginástica, o projecto apresentado foi para dois anos, prolongando-se agora até 2012. É claro que a mesma estrutura dirigente ao longo de um ciclo olímpico permite mais estabilidade e um planeamento de projectos a longo prazo, o que a dois anos se torna praticamente impossível. Por isso, a nossa pretensão é continuar a crescer em número de ginastas, clubes e em actividades promovidas; alargando o âmbito da AGVR a outros distritos, tornando a competição no norte mais forte e despertando a consciência gímnica na sociedade civil. No entanto, posso avançar em primeira-mão que a aposta com o alargamento do mandato será realizar uma prova internacional de Trampolins no nosso concelho.

A nível nacional e local, qual a projecção actual da ginástica?
A ginástica tem uma grande importância como desporto de formação base. O trabalho das associações e dos clubes tem levado mais crianças à prática da ginástica e contamos a nível nacional com um número bastante elevado nos escalões de menor idade. Nos escalões de formação a nível nacional ainda estamos bastante medianos, no reverso da medalha, o escalão elite (composto pelos ginastas da selecção nacional) tem obtido excelentes resultados internacionais, que conta já com vários títulos europeus e um título mundial obtido o ano passado, mas a ginástica não se pratica com bola e a sua espectacularidade não é proporcional à sua projecção. É necessário que a ginástica se mostre e se promova, e é também fundamental que os media se interessem mais pelos desportos menos mediáticos.

Quais os apoios que possuem e se são ou não suficientes?
Os apoios que a AGVR recebe são maioritariamente das dotações provenientes das federações. Neste momento estamos em conversações com a Câmara de Vila Real para a elaboração de um contrato-programa de apoio e promoção às actividades gímnicas como acontece com as outras associações desportivas do concelho. Por mais simples que um projecto seja a sua concretização só é viável se houver financiamento. Neste momento de expansão e crescimento em que queremos fazer mais e melhor esperamos que as federações e o Município de Vila Real tenham a sensibilidade de reconhecer o esforço. Pois só poderemos crescer mais se todas as entidades colaborem na promoção e dinamização da ginástica, é isto que nós esperamos delas, trabalho é o que podem esperar de nós.

(www.noticiasdevilareal.com)